quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Estudante de medicina da USP relata humilhação em “rito de passagem” da Atlética


Cidadania




#COMENTÁRIO

Só para não ficar repetitivo, eis a USP novamente na mídia, com má publicidade. Por onde andam a reitoria e administradores da universidade? A cada dia que passa, mais e mais notícias estarrecedoras surgem da Faculdade de Medicina da USP, parece haver ali uma rede composta de tudo o que há de mais baixo, de mais podre em comportamentos humanos. Tudo isso embaixo das barbas da administração da universidade, poderíamos facilmente incluir esses comportamentos boçais como fazerem parte do rol das justificativas para a baixa qualidade e responsabilidade de médicos atendentes em hospitais e postos de saúdes pelo Brasil afora. Não é possível, não é lógico que alguém passe anos fazendo parte dessa baderna, dessa farra desenfreada que ceifam vidas, não de inocentes alunos, mas de pretensos candidatos ao rol da farra e depois de todo esse tempo na algazarra, tornem-se senhores médicos respeitosos e aptos a salvar vidas, cuidar de doentes, de atos de benevolências, de fazerem-se juz à promessa de formatura.

#Disse

Carlos Leonardo

Fonte: R7.com

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#CONVITE

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Vídeo mostra prática violenta que chega a ser feita contra a vontade de membros do grupo

Ana Cláudia Barros, do R7

Cercado por alunos da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), um jovem, também estudante do curso, recebe violentos tapas nas nádegas, cobertas por um campo estéril, usado comumente em cirurgias. Paramentados como se estivessem prestes a operar um paciente, os universitários ignoram os gritos de desespero da vítima. A cena descrita foi exibida em vídeo durante a audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) nesta terça-feira (11). Ela retrata um ritual chamado de “pasta” ou “pascu”, praticado há anos na Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, dirigida por estudantes da FMUSP, segundo o estudante Z, ouvido pelo R7. De acordo com denúncias de alunos levadas à comissão, a prática significa um rito de passagem, mas também uma forma de punição dos integrantes da Atlética. O ato é, basicamente, a simulação de um procedimento cirúrgico, em que a anestesia é representada pelos tapas na região glútea. No final do ritual, os estudantes costumam aplicar pasta de dente na região perianal de quem sofre a humilhação. No caso do vídeo exibido na Alesp, houve uma peculiaridade: um pedaço de pizza foi colocado nas nádegas do rapaz. O motivo? Ele era contra a “pasta”, segundo contou Z. Em entrevista ao portal, o aluno, que fez parte da Atlética durante dois anos, relatou que a gravação da violência foi exigência de um veterano. — O episódio do vídeo é particularmente caprichoso, porque era uma pessoa da gestão da Atlética na época e se posicionou contra a “pasta”. Ele já tinha sido submetido ao ritual de passagem, então, para ele, a pasta era só punitiva [...] Um cara muito mais velho, que era do décimo ano, na época [...] Décimo ano é tipo a glória máxima. É a pessoa que está no último ano de competição e já fez muito pelo time. Então, ele fez uma ameaça e tinha respaldo da turma dele.  Ele falou: “Quero que vocês deem uma “pasta” no cara, gravem um vídeo e me mandem. Uma pasta com pizza. Se vocês não fizerem isso, vou voltar aqui e dar “pasta” em todo mundo”.
Diante da ordem, conforme Z., alunos do quinto e do sexto ano da época, integrantes da Atlética, organizaram-se para aplicar o castigo. — É muito cruel. Os agressores filmaram o ato de agressão. Segundo o universitário, a vítima que aparece no vídeo, que inicialmente era contrária ao “pascu,” passou a reproduzir a prática. — Não é uma pressãozinha de grupo. A pessoa tem acesso a seu corpo. É bizarro.

Hierarquia forte
A Atlética utiliza o espaço de um clube localizado nas imediações do Complexo Hospital das Clínicas/Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A gestão estudantil  é escolhida por meio de votação, mas a influência de ex-diretores e ex-alunos é forte, de acordo com Z. Ele relatou que o maior objetivo é vencer as competições, o que é considerado uma forma de “honrar as tradições”. Além da diretoria, os estudantes se organizam  em modalidades esportivas e há também uma bateria. O universitário explicou que, dentro do grupo, há fortes aspectos hierárquicos que, em geral, são baseados no tempo de participação na instituição e no mérito esportivo e musical. Esse último, no caso da bateria. Qualquer ato que seja entendido pelos diretores como um desvio de comportamento, como por exemplo, desrespeito à hierarquia, é passível de punição. — A menor desculpa é uma justificativa para a pessoa sofrer a agressão. Por motivos banais, que o R7 optou por não descrever para evitar a identificação de Z., o aluno diz ter sido submetido à “pasta” em dois momentos. — Dói. É realmente uma agressão física, mas dói só no momento. Rola uma tortura psicológica, porque você está de costa e não sabe o que está acontecendo, não sabe quando vai acabar [...] A sensação que você tem depois é de humilhação completa. Segundo ele, alguns estudantes precisam ser contidos, mas grande parte aceita o castigo resignada. Ele contou que os mais velhos ligados à Atlética são obrigados a participar do ritual. — Geralmente, participam o quinto e o sexto ano, que são os internos, parte mais alta da hierarquia. Eles são obrigados a participar porque, no fim das contas, é um grande risco que estão assumindo, e eles querem que todo mundo esteja sujo para que não haja dissidentes dessa prática. Os diretores da Atlética são os que mais sofrem, conforme o relato de Z., porque são considerados referência, têm que dar o exemplo e “prezar pela vitória e glória da Atlética sempre”. Para ele, muitos relativizam a agressão.  — Vem alguém depois falar com você e te acolher. Você se sente realmente parte do grupo quando isso acontece. Tenho um colega que chegou a falar, quando estava no segundo ano, que ele queria levar uma “pasta” para se sentir incluído no time. É esse tipo de pessoa que reproduz essa prática depois.

Trote velado
Z. disse que, até 1999, todos os calouros que se colocassem para participar da Atlética sofriam o “pascu”, de acordo com relatos que teria ouvido dos mais velhos. A prática era uma parte do trote, mas de forma velada. Com a morte do calouro Edison Tsung Chi Hsueh em fevereiro daquele ano, a situação mudou. Segundo Z., a USP passou a ter uma ação importante para combater o trote. — Mas essa atitude não foi completa. Evita-se o trote só no primeiro ano. Depois, no segundo ano, já existe a expectativa de que a pessoa vai sofrer essa violência [...] Não é porque não acontece no primeiro ano que deixa de ser trote. Existe até o argumento de que as pessoas estão sendo integradas ao grupo com esse ritual. Só que é uma coisa que não é inclusiva. Ela veste esta máscara, mas não é inclusivo.

Mudança
Z. decidiu sair ao perceber não seria capaz de implementar mudanças naquele lugar. A compreensão de que não se sentia parte do esquema foi consolidada, disse ele, ao ver que pessoas, incluindo de fora da Atlética, eram desrespeitadas. — Existe uma grande sensação de impunidade. O ambiente da Atlética é totalmente permissivo. A morte do Edison é um ótimo exemplo disso. Morreu uma pessoa naquele local e a faculdade simplesmente se omitiu. Disse que era coisa dos alunos, que não aconteceu dentro da faculdade [...] As pessoas foram acusadas de homicídio qualificado e foram absolvidas. No ano passado, de cidiram arquivar. Foram 15 anos de processo e de impunidade total. Indagado se acreditava que é possível extinguir a pasta das práticas da Atlética, respondeu sem disfarçar o ceticismo.  — Acho que muita coisa precisa mudar. As coisas precisam ser trazidas a público, porque internamente essa mudança não é possível [...] A grande maioria [dos alunos] legitima as ações violentas pelo silêncio. Elas não estão dispostas a se expor. Por mais que não reproduzam ativamente essa prática, acabam a legitimando. Se as pessoas que têm o poder na Atlética continuam perpetuando essa prática, não vai acabar, mas se a sociedade civil cobrar isso... Afinal, tudo está acontecendo em terreno público. A sociedade tem o direito de cobrar ética.


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